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cf2011cartazCampanha da Fraternidade 2011

Lema: A criação geme em dores de

             parto (Rm 8,22)

Tema: Fraternidade e a Vida no Planeta

   Creio em Deus, Pai Criador

   Cardeal Odilo Pedro Scherer

   Arcebispo de São Paulo

A Campanha da Fraternidade de 2011 (CF-2011) propõe uma questão de evidente atualidade: fraternidade e a vida no nosso Planeta. Nem é preciso argumentar muito para justificar a escolha desse tema pela CNBB: Já faz tempo que estudiosos estão alertando para o fenômeno do aquecimento global e suas consequências para o clima e para o equilíbrio ecológico.

As Conferências mundiais sobre o clima, que congregam as maiores autoridades científicas da área, deixam sempre mais evidente que o sistema produtivo da economia moderna e contemporânea desencadeia intervenções inadequadas do homem na natureza e se constitui numa ameaça real para o equilíbrio ecológico e até mesmo para o futuro da vida na terra. Em contraste com tais constatações, nas mesmas movimentadas Conferências sobre o clima, as principais autoridades políticas e econômicas do Planeta não conseguem chegar a um acordo sobre as medidas a serem adotadas para sanar o problema e prevenir os riscos. É difícil redimensionar o desenvolvimento econômico, quando a receita é renunciar a certo padrão de consumo dos recursos naturais, que equivale à depredação e depauperamento da natureza. Exigimos da natureza mais do que ela pode oferecer, sem comprometer a sua sustentabilidade.

A CF-2011 convida a encarar seriamente a responsabilidade humana em relação ao futuro da vida no planeta Terra, o "ninho da vida" no universo, a casa comum da grande e diversificada família humana. O Texto Base, que apresenta a proposta da CF, traz argumentos e reflexões sobre o fenômeno do aquecimento global e os motivos que deveriam levar todos a pensar sobre o que é possível fazer e o que não se deveria fazer, para evitar a deterioração do ambiente da vida na terra. Argumentos bíblicos e teológicos deveriam motivar os cristãos e todos os crentes em Deus a uma verdadeira conversão nos modos de viver e de se relacionar com a natureza, quando ficam comprometidas a qualidade da vida e a fraternidade na família humana. Todos são convidados a se envolverem na CF-2011.

Envelhecer

Jacinta Dantas  - Vitória - ES

idosos_casal_bancopracaO poeta e cantor Gonzaguinha, sábio em suas palavras, canta e revela a dicotomia do dom maior – a vida. Como ele diz, "a vida é batida de um coração, é doce ilusão, maravilha, sofrimento...". No entanto, é preciso "Viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz". Dicotomia de prazer e dor, o homem vive, sobrevive, persistindo no propósito de enfrentar os desafios que lhe são colocados, dia-após-dia, frente à própria existência.

Viver cada dia, deixando-se encantar pela experiência de criar e recriar a ação do viver, que é perpassada por várias etapas, que vão moldando o jeito de ser e estar no mundo. E estar no mundo, de peito aberto, encarando e enfrentando as questões que lhe são colocadas é tarefa de todo dia. Mas, manter-se saudável numa atmosfera competitiva, que hostiliza os que são considerados menos competitivos é um desafio constante.

Cada momento do viver traz seus encontros e desencontros. Desde o nascimento até a morte são muitas experiências e muitas vidas num único viver. São pessoas em uma única pessoa. Criança, jovem, adulto, velho... homem ou mulher.idosos_familia_criancas

Envelhecer implica ter passado pelas diversas etapas, acumulando experiências, anseios e realizaçõesno caminho que se trilha na estrada do viver. Viver, com 60, 70,100 anos ou mais, parece uma aventura que precisa ser acolhida e cultivada como parte importante no ciclo do existir: a complementaridade do círculo da existência humana.

joaopaulo_abencoaidosoEstorvo para muitos,

tesouro para outros

Pe. Amauri Ferreira - Paróquia Imaculada Conceição

Guararapes - Diocese de Araçatuba

Recentemente fui chamado a visitar um senhor já bem idoso e enfermo. Chegando ao local, enquanto estacionava o carro, bem em frente à casa, deparei-me com uma senhora que varria a calçada e perguntei: aqui mora o seu João? De maneira muito simpática, respondeu-me: "sim! O senhor é o padre?". Respondi afirmativamente e ela, deixando a vassoura de lado, disse-me: "sou sua filha, vamos entrar! Só peço que não repare a bagunça! A casa vive desarrumada! Acabei de dar café a ele! O senhor não se incomoda de entrar pelos fundos?". Sorrindo exclamei: é claro que não! E prossegui a conversa desejando saber como andava a saúde de seu pai. Com a mão fez o sinal de mais ou menos e logo mudou de assunto, dizendo: "o senhor está vendo esse quartinho? É aqui que ele guarda todas as suas tranqueiras! É um absurdo padre! Ninguém consegue entrar de tão cheio que tá! É bem verdade que ele conserva tudo arrumadinho e, se alguém mexer em alguma coisa ou tirar uma ferramenta do lugar, ele dá por falta e começa a reclamar dizendo: 'alguém esteve aqui e, sem me avisar, levou isso ou aquilo'. Sou a filha mais velha, tenho sessenta e dois anos. Tem muita coisa aí dentro que ele usava quando eu ainda era criança. Aliás, algumas coisas são ainda do seu tempo de solteiro, quando ele nem sonhava conhecer minha falecida mãe". Brincando, retruquei: então, isso não é um quartinho, mas sim, um tesouro!... - "Que nada padre, é só velharia mesmo! Por mim, já teria posto tudo no lixo e, as ferramentas, dado para alguém. Aqui em casa somos em seis. Todo mundo já implorou pra que ele se desfaça dessas bugigangas... Mas o velho é duro e, quando a gente fala alguma coisa, fica irritado e diz que bugiganga são as tralhas que temos! Tá doente, pra morrer, mas continua o mesmo turrão de sempre!".

Ao entrar na casa, diminuindo o tom de voz, comentou: "ele está no quarto, deitado. Entre e fique à vontade! Se o senhor não se importa, vou acabar de varrer o quintal e depois fazer o almoço". Por último, piscando os olhos e falando bem baixinho, pediu-me: "vê se o senhor consegue conversar com ele para que deixe de ser 'cabeça dura' e permita que a gente faça uma boa limpeza mandando aquelas quinquilharias pra bem longe". Entrei no pequeno cômodo que possuía apenas uma velha cama, um criado-mudo e um guarda-roupas. Lá estava seu João que, num primeiro momento, com a voz baixa e rouca, perguntou meio intrigado: "quem é?". Logo me apresentei: bom dia, seu João, eu sou o padre! Vim visitá-lo e saber como vai a sua saúde. Quero conversar um pouquinho e, depois, se for de sua vontade, rezar por alguns momentos em sua companhia. O senhor está bem disposto?... Ele abriu um largo sorriso e, com o rosto sereno, estendeu sua mão em direção à minha, dizendo: "que bom que o senhor veio, padre!". E continuou: "disposto, disposto, um velho da minha idade nunca está, mas a gente vai levando! Uma hora melhor, outra pior! Da saúde até que melhorei. Semana passada, estive mal, pensei mesmo que ia 'bater as botas', mas, que nada, a gente vai levando até o dia em que Deus quiser nos quiser junto dEle, não é mesmo?".

O HOMEM JUSTO NÃO VIVE SOZINHO

Monica Picco - Coordenadora da Pastoral da Pessoa Idosa da Região Episcopal Lapa, São Paulo

crianca_com_avsO homem justo não vive sozinho: Está sempre acompanhado e protegido por Deus. A Pastoral da Pessoa Idosa se depara, muitas vezes, com injustiças praticadas contra os idosos. O lugar destas injustiças vai desde a sua casa, provenientes da sua própria família até a comunidade em que vive. Sem contar as injustiças sociais provocas pela falta de leis que assegurem e protejam os idosos. Porém, nada disso deve impedi-lo de louvar e agradecer a Deus por sua vida.

O livro de Tobias nos ensina que sendo tementes e fiéis a Deus, Ele não nos desampara. Tobit, pai de Tobias, foi acometido pela cegueira na sua velhice. Como havia sempre temido a Deus desde a sua infância e guardado Seus mandamentos, ele não se afligiu (nem murmurou) contra Deus. Ao contrário, perseverou firme no temor de Deus, e continuou a dar-lhe graças em todos os dias de sua vida.

Os idosos já têm que lidar com as algumas limitações que a idade favorece: problemas com mobilidade, visão, audição, vulnerabilidade para doenças físicas, e às vezes, mentais. Situações que os fragilizam e podem levá-los a problemas mais sérios, tanto físicos quanto psicológicos. É neste momento que nós, amigos e parentes devemos estar atentos e animá-los a procurar cuidados médicos e buscar atividades que os remetam a uma vida com alegria e qualidade.

Porém, existem também as tribulações familiares. Aquelas que não dependem tanto dos amigos, mas sim da família. O tratamento dado à pessoa idosa. O respeito merecido, a atenção a qual ela é digna, a valorização que ela espera. São tão simples os gestos que podem demonstrar este carinho, mas tão difícil de ser prática nas famílias das nossas comunidades.

A Pastoral da Pessoa Idosa orienta suas líderes a estarem atentas a estas circunstâncias. A líder (ou o líder) é preparada para "captar" nas visitas aos idosos uma situação em que a pessoa idosa é negligenciada e está sofrendo por isso. Tanto que uma das funções da líder é: ser ponte entre o idoso e sua família. Qualquer tipo de "desvio negativo" no curso normal da vida da pessoa idosa pode levá-la a uma mudança de comportamento que varia desde uma grande tristeza (podendo vir a ser uma depressão) até uma doença ou agressividade anormal. Na maioria das vezes a família não percebe este caminho (ação e reação). Neste momento, a líder entra em ação.

No entanto, é nosso papel estimular as pessoas idosas a cuidarem, também, da sua vida espiritual. Sua relação com a vida e com Deus. Direcionarmos para que elas não se sintam injustiçadas pela vida, tampouco por Deus, e que tenham a certeza da grande misericórdia que nosso Pai tem por cada um de nós.

Acalmemos os corações dos nossos idosos e mostremo-lhos que Deus nunca nos desampara: "Bendigam a Deus e proclamem diante de todos os seres vivos os benefícios que Ele vos concedeu" (Tb 12, 6).

Monica Picco
Coordenadora da Pastoral da Pessoa Idosa
da Região Episcopal Lapa