Santa Teresinha do Menino Jesus, a história de uma alma missionária

Muito mais do que a “Santa das rosas”, Santa Teresinha do Menino Jesus ou Teresa de Lisieux, cuja festa litúrgica foi celebrada no dia 1º de outubro, é para a Igreja Católica uma santa sobre a qual os fiéis precisam sempre mais se debruçar para conhecer a vida e as virtudes que a tornaram doutora da Igreja, mesmo tendo vivido apenas 24 anos. Teresa Martin nasceu na França no dia 2 de janeiro de 1873 e foi batizada apenas dois dias depois na Igreja de Notre-Dame, recebendo o nome de Maria Francisca Teresa. Filha de Luis Martin e Zélie Guérin, Teresa se mudou para a cidade de Lisieux logo após a morte de sua mãe em 1877, quando tinha apenas 4 anos.

Aos 6 anos de idade, Teresa se aproxima pela primeira vez do sacramento da Penitência. Esse detalhe da vida da Santa é importante, pois foi esse caminho de sofrimento e humildade que constituiu a pequena via, trajetória espiritual vivida por ela, na qual buscava, constantemente, abnegação de si e o serviço.

A história dessa Santa, que pode ser lida no livro “História de uma alma”, uma espécie de autobiografia de Teresa, inspirou e continua a inspirar não só congregações como a família carmelitana e movimentos leigos ou fiéis que a ela recorrem pedindo intercessão por sua vida e missão, mas também instituições laicas, teatros e iniciativas dos mais diferentes tipos.

Desejosa de abraçar a vida contemplativa desde pequena, como havia acontecido com suas irmãs, Paolina e Marina no Carmelo de Lisieux, foi impedida devido à sua idade. Mas, após uma peregrinação à Itália, onde visitou a Santa Casa de Loreto e os lugares da cidade eterna, teve a audácia de pedir ao então Papa Leão XII que a deixasse entrar para o Carmelo aos 15 anos, durante uma audiência do Papa com os fiéis na sua diocese.

Teresa entrou para o Carmelo no dia 9 de abril de 1888, e no ano seguinte recebeu o hábito. Ela emitiu seus votos religiosos no dia 8 de setembro de 1890. Buscou viver no Carmelo um caminho de perfeição e assumiu na comunidade diversos compromissos a ela confiados. Teresa sempre foi muito fiel ao Evangelho e percorreu um caminho de santidade no qual insistia na centralidade do amor.

Retratos do amor

Santa Teresinha do Menino Jesus deixou nos seus manuscritos autobiográficos não somente as recordações da sua infância e juventude, mas também retratos de sua alma e de suas experiências mais íntimas. Comunicou às noviças a ela confiadas, a pequena via da infância espiritual; recebeu como dom especial acompanhar com o sacrifício e a oração duas irmãs missionárias e, a partir de então, penetra sempre mais no mistério da Igreja, vendo crescer em si a vocação apostólica e missionária.

No dia 9 de junho de 1895, na festa da Santíssima Trindade, se ofereceu como vítima de holocausto ao amor misericordioso de Deus, ao mesmo tempo em que redigiu seu primeiro manuscrito autobiográfico e o entregou à Madre Agnese de Jesus, em 1896. Poucos meses depois, no dia 3 de abril, durante a noite entre a Quinta-feira e Sexta-feira Santa, teve a primeira manifestação da doença que a levou à morte e que ela acolheu como a misteriosa visita do Esposo Divino. Ao mesmo tempo, passou pela provação de fé que durou até sua morte e sobre a qual Teresa ofereceu um fantástico testemunho de fé nos seus escritos. Durante o mês de setembro, conclui o manuscrito B, que constitui uma esplêndida ilustração da maturidade da Santa, especialmente sobre a descoberta da sua vocação no coração da Igreja.

No mês de junho daquele ano, ela começou a escrever o manuscrito C. Ali, descreveu as novas graças que a conduziram a um caminho de mais alta perfeição e descobriu novas luzes para as almas que seguem o caminho da pequena via. Em julho de 1897, Teresa foi transferida para a enfermaria. As irmãs recolhiam e registravam suas palavras em meio às dores suportadas com paciência. Mas a doença avançou e Teresa morreu na tarde de 30 de setembro de 1897. “Eu não morro, entro na vida”, havia escrito para seu irmão espiritual, o missionário Dom Bellier.

Canonizada pelo Papa Pio XI no dia 17 de maio de 1925 e pelo mesmo Papa proclamada padroeira universal dos missionários, ao lado de São Francisco Xavier, em dezembro de 1927, Santa Teresinha do Menino Jesus deixa a todos um exemplo de santidade e sabedoria. E, devido a isso, no dia 19 de outubro de 1997, foi também proclamada doutora da Igreja Universal, pelo então Papa João Paulo II, no domingo em que se celebrava a Jornada Mundial das Missões.

A pequena via de Teresa

Teresinha comparava-se aos grandes santos e sentia-se pequena diante deles. Foi, então, que descobriu um caminho no qual ela abandonava-se plenamente em Deus, a chamada pequena via, que tem algumas características, tais como: aceitar as próprias limitações; deixar-se guiar por Deus, fazendo um ato de entrega total a ele; sentir-se inundado pelo amor totalmente gratuito de Deus; viver o momento presente e aproveitar cada instante para fazer o bem e confiar sempre.

A propósito da pequena via, São João Paulo II disse: “Ela é uma via ao alcance de todos. Caminho da confiança e do abandono total de si mesmo à graça do Senhor. Não se trata de uma via a ser banalizada, como se fosse menos exigente. Na realidade, ela é exigente, como o é sempre o Evangelho”.

Mas como compreender, hoje, também sobre um olhar psicológico, essa pequena via de Teresinha? A pouca idade dela não poderia levantar a hipótese de que esse elemento de humildade seja, de algum modo, fruto de certo infantilismo ou de uma imaturidade?

A psicóloga e professora de Psicologia da Religião, Eliana Massih, respondeu ao O SÃO PAULO “que primeiro teríamos que perguntar o que é maturidade? E ainda: a pessoa humana a atinge ou estamos em permanente e incessante amadurecimento? Parece ser essa a questão. De algum modo, Teresinha do Menino Jesus amadureceu cedo para o que denominamos espiritualidade”, afirmou.

Eliana disse ainda que “espiritualidade não se compara com outras aberturas humanas para o amadurecimento. Usar um crivo meramente psicológico não abarca a compreensão que devemos ter do modo de ser de alguém, cuja linha de desenvolvimento é a mística. Tudo aquilo que fere o autocuidado deve ser pesquisado e posto em diálogo com a pessoa que vive a experiência. Humildade sem extremos e espiritualidade encarnada só fazem bem para a saúde mental de qualquer criança ou jovem. É preciso ação pedagógica para acionar essas possibilidades humanas”.

Entender o caminho de espiritualidade vivido por Santa Teresinha do Menino Jesus é uma forma de conhecer melhor a vida desta jovem que deixou para a Igreja um testemunho de santidade baseado no cotidiano da vida e no desejo de amar, acima de tudo, conforme ensina o Evangelho.

Fonte: Arquidiocese de São Paulo